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O gato preto – Vereador acusa prefeito em tribuna de cometer racismo

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Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=o0V3HOngEaU&feature=share

 

Sem entrar no mérito do modo como o vereador tomou conhecimento de uma imagem comparativa de um leão e um gato, o mesmo a expôs em tribuna e usou a seguinte expressão: “na tribuna é um leão e fora da tribuna é um gatinho preto”. Em 4’13” de fala, o vereador afirma “eu acho que o prefeito é racista”. É inegável que o negro seja vítima de racismo, de preconceito e discriminação, e isso é lamentável! Todavia, diz um certo ditado, que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. A cor preta não é sinônimo de racismo, pois o que caracteriza de fato o racismo é o sentido pejorativo que se aplica ao mesmo. Lembre-se do caso do goleiro Aranha, quando jogava pelo Santos FC, foi chamado de "macaco" por um torcedor rival. "Aranha" e "macaco" não são nomes de gente, entretanto, o modo insultuoso que foi proferido a ele a palavra "macaco" foi completamente criminoso. Agora, não significa que o macaco em si seja conteúdo de racismo. E o gato? Já explico. É uma verdade que o gato por ser preto dá azar? Evidente que não. Mas é discutível o porquê se construiu essa relação de azar com a cor do gato. Se dissermos, por exemplo, que a pomba preta será símbolo da paz, muito provável que a mentalidade preconceituosa dirá que assim a coisa vai ficar ruim, ou como diriam, "a coisa vai ficar preta". O que é importante ressaltar, é que antes de levantarmos uma bandeira para lutar contra o racismo, contra o preconceito, é necessário nos livrarmos antes dessas associações toscas do preto com o mal, com o azar, com o pior e até mesmo com a criminalidade. A mensagem da imagem é comparativa e está no comportamento dos referidos animais e não em suas respectivas cores. Qualquer aluno do ensino fundamental deveria saber disso. O leão rugindo, demonstrando autoridade, referido sempre como rei da selva. Por outro lado um gato, com olhar expressivo de mansidão, de tranquilidade, de ser inofensivo, causando visualmente certa sedução.

 

Diante disso, como o nobre edil é capaz de dizer que a relação de um animal com outro caracteriza racismo pelo fato de o gato ser preto?

 

Será se o racismo nesse caso não está em sua percepção ao denunciar outro de ser racista? E se o gato na imagem fosse siamês ou persa, deixaria de ter uma expressão que caracteriza inofensividade? Deixaria de transmitir o significado da comparação e seria esvaziado de sentido na imagem?

 

Eu não sei se é desonestidade intelectual, não sei se é incapacidade de compreender os elementos da linguagem ou se é pura demagogia para explorar ainda mais a ignorância das pessoas. Só sei que levantar a bandeira contra o racismo demonstrando práticas de um racista, pode soar muito como hipocrisia.

 

Dado a esse acontecimento, retomo o questionamento: a quem interessa tudo isso? A que interesse público contempla esse método de discurso em tribuna? Quais os problemas estruturais do município que isso colabora em resolver? E não só esse episódio, mas outro num passado recente envolvendo injúrias à categoria de agentes de fiscalização de trânsito do município no exercício de sua função. As expressões sarcásticas, desrespeitosas e caluniosas não precisam fazer parte do caráter de oposição. É livre a manifestação do pensamento, mas até que ponto a liberdade pode ser tomada como liberdade de ofender? Até que ponto esse método de liberdade discursiva tem gerado benefício no dia a dia dos nossos contribuintes?

 

Não estou dizendo de modo nenhum que não se deve cobrar ou fiscalizar, estou provocando o pensamento para que tenhamos a compreensão que a tribuna não é palanque de discórdia e que nosso cenário político municipal não pode ser transformado no histórico “pão e circo”. Vamos organizar o pensamento, pois como se diz o ditado popular, “roupa suja se lava em casa”, não na “Casa do Povo”.

 

Thiago Augusto
Servidor Público Municipal, acadêmico e escritor nas horas vagas

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